Saúde Mental Infantil (UFCD’16
Carga horária: 14 horas
. Identificar os conceitos básicos de saúde mental infantil
. Desenvolver acções adequadas à promoção da saúde mental infantil.
Conteúdos:
Fundamentos da saúde mental
. Definição
. Conceitos Básicos
Perspectivas preventivas em saúde mental
. Normal e Patológico
. Modelo Preventivo – factores de equilíbrio e de risco
. Crises de desenvolvimento e crises acidentais
Saúde Mental na Família
. Criança e família
. Importância da abordagem familiar
. Objectivos da perspectiva familiar
Criança vulnerável e em risco
. Desenvolvimento e vulnerabilidade
. Algumas situações de risco
- carência afectiva materna
- carência prematura
- criança hospitalizada
- criança de família desmembrada
- síndroma da criança negligenciada
- criança psicossomática
Saúde Mental Infantil
Problemas de saúde mental na infância podem prejudicar o desenvolvimento da criança e estão associados ao risco de transtornos psicossociais na vida adulta. Estudos epidemiológicos têm mostrado taxas variáveis de prevalência de problemas psiquiátricos em crianças e adolescentes.
Os mecanismos causais subjacentes a essas associações não são bem conhecidos. Sabe-se que eles podem ter base genética, ambiental ou ambas. Quaisquer que sejam os mecanismos envolvidos, o ambiente familiar instável, incontrolável ou caótico tem sido reconhecido como prejudicial ao desenvolvimento infantil.
DISTINÇÃO NORMAL / PATOLÓGICO
Visualização do Filme NELL
(Nell é uma jovem inocente e selvagem que cresceu numa casa isolada na floresta com a mãe e a irmã gémea. Após a morte da mãe, Nell é encontrada pelo médico local, Jerome, que fica fascinado com a sua linguagem própria e comportamento e a quer ajudar. Enquanto Paula, uma psicóloga, por sua vez, quer observá-la num laboratório. Mas o juiz encarregue do caso dá-lhes três meses para estudarem Nell na floresta, fim do qual irá decidir em relação ao seu futuro...)
___ Através do filme NELL discuta como se definem as questões do normal e patológico
O que é normal?
Responder a isso significa dizer que determinadas áreas de conhecimento científico estabelecem padrões de comportamento ou de funcionamento do organismo sadio ou da personalidade adaptada. Esses padrões ou normas referem-se a médias estatísticas do que se deve esperar do organismo ou da personalidade enquanto funcionamento e expressão.
Essas ideias ou critérios de avaliação constroem-se a partir do desenvolvimento científico de uma determinada área do conhecimento e, também a partir de dados da cultura e do comportamento do próprio observador ou especialista que nesse momento avalia este indivíduo e diagnostica que ele é doente.
O conceito de normal e patológico é extremamente relativo. Do ponto de vista cultural, o que numa sociedade é considerado normal, adequado, aceito ou mesmo valorizado poder ser considerado anormal, desviante ou patológico.
Os antropólogos têm contribuído enormemente para esclarecer essa questão de relatividade cultural. Exemplo: o comportamento homossexual (numa sociedade é considerado normal, em outra pode ser um comportamento absolutamente adequado).
A saúde mental da infância e da adolescência é por vezes difícil traçar uma fronteira entre o normal e o patológico. Por si só um sintoma não implica necessariamente a existência de psicopatologia (diversos sintomas podem aparecer ao longo do desenvolvimento normal de uma criança, sendo geralmente transitórios e sem evolução patológica). Por outro lado, o mesmo sintoma pode estar presente nos mais variados quadros psicopatológicos.
Os sintomas adquirem significado no contexto sócio-familiar e no momento evolutivo da criança. Deste modo, na presença de um ambiente familiar tolerante e tranquilizador, existe uma maior probabilidade de os sintomas diminuírem e até desaparecerem.
Já num meio intolerante, agressivo ou angustiante, as perturbações que a criança apresenta podem perdurar e afectar o seu desenvolvimento.
Sabe-se muitas vezes que pais impacientes ou ansiosos concentram a sua atenção num dado acontecimento ou sintoma, dando-lhe uma importância excessiva, fortalecendo-o, até se tornar um problema, sem que na maioria das vezes os pais tenham a noção deste seu papel. Os seus esforços para combater determinada situação problemática acabam por criar um estado de tensão na criança, reforçando o sintoma.
Apresentamos de seguida alguns indicadores que nos ajudam a efectuar a distinção entre normal e patológico.
Sintomas Normais (inerentes ao desenvolvimento)
Surgem no decurso de conflitos inevitáveis e necessários ao desenvolvimento psicológico da criança. Características:
Transitórios.
Pouco intensos.
Restritos a uma área da vida da criança.
Sem repercussão sobre o desenvolvimento.
A criança fala neles com facilidade.
Sem disfunção familiar evidente.
Sintomas Patológicos
Características:
Intensos e frequentes.
Persistem ao longo do desenvolvimento.
Causam grave restrição em diferentes áreas da vida da criança.
Repercussão no desenvolvimento psicológico normal.
Meio envolvente patológico.
Desadequados em relação à idade.
Associação de múltiplos sintomas.
Estar atento a eventuais sinais de alerta para referenciação
Na primeira infância:
Dificuldades na relação mãe-bebé.
Dificuldade do bebé em se auto-regular e mostrar interesse no mundo.
Dificuldade do bebé em envolver-se na relação com o outro e em estabelecer relações diferenciadas.
Avaliação, Triagem e Referenciação
Ausência de reciprocidade interactiva e de capacidade de iniciar interacção.
Perturbações alimentares graves com cruzamento de percentis e sem causa orgânica aparente.
Insónia grave.
Na idade escolar:
Dificuldades de aprendizagem sem défice cognitivo e na ausência de factores pedagógicos adversos.
Recusa escolar.
Hiperactividade / agitação (excessiva ou para além da idade normal).
Ansiedade, preocupações ou medos excessivos.
Dificuldades em adormecer, pesadelos muito frequentes.
Agressividade, violência, oposição persistentes, birras inexplicáveis e desadequadas para a idade.
Dificuldades na socialização, com isolamento ou relacionamento desadequado com pares ou adultos.
Somatizações múltiplas ou persistentes.
Leitura e análise do texto:
O Nariz –
Luís Fernando Veríssimo (O Analista de Bagé)
Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes mas uma sólida reputação como profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros pretos, sombrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com o Groucho Marx. Mas o nosso dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço.
- O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos.
- Isso o quê?
- Esse nariz.
- Ah. Vi numa vitrina, entrei e comprei.
- Logo você, papai…
Depois do almoço, ele foi recostar-se no sofá da sala, como fazia todos os dias. A mulher impacientou-se.
- Tire esse negócio.
- Por quê?
- Brincadeira tem hora.
- Mas isto não é brincadeira.
Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, levantou-se e dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou.
- Aonde é que você vai?
- Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório.
- Mas com esse nariz?
- Eu não compreendo você – disse ele, olhando-a com censura através dos aros sem lentes. – Se fosse uma gravata nova você não diria nada. Só porque é um nariz…
- Pense nos vizinhos. Pense nos clientes.
Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha. Deram risadas (“Logo o senhor, doutor…”) fizeram perguntas, mas terminaram a consulta intrigados e saíram do consultório com dúvidas.
- Ele enlouqueceu?
- Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. – Nunca vi ele assim. Naquela noite ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de dormir. Depois vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar.
- Você vai usar esse nariz na cama? – perguntou a mulher.
- Vou. Aliás, não vou mais tirar esse nariz.
- Mas, por quê?
- Por quê não?
Dormiu logo. A mulher passou metade da noite olhando para o nariz de borracha. De madrugada começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo estava acabado. Uma carreira brilhante, uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo trocado por um nariz postiço.
- Papá…
- Sim, minha filha.
- Podemos conversar?
- Claro que podemos.
- É sobre esse nariz…
- O meu nariz outra vez? Mas vocês só pensam nisso?
- Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para outra um homem como você resolve andar de nariz postiço e não quer que ninguém note?
- O nariz é meu e vou continuar a usar.
- Mas, por que, papai? Você não se dá conta de que se transformou no palhaço do prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamã não tem mais vida social.
- Não tem porque não quer…
- Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço?
- Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai. Continuo o mesmo homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença.
- Se não faz nenhuma diferença, então por que usar?
- Se não faz diferença, porque não usar?
- Mas, mas…
- Minha filha…
- Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!
A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que esperar de um homem que usava nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra.
- Você vai concordar – disse o psiquiatra, depois de concluir que não havia nada de errado com ele – que seu comportamento é um pouco estranho…
- Estranho é o comportamento dos outros! – disse ele. – Eu continuo o mesmo. Noventa e dois por cento de meu corpo continua o que era antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem de me comportar, Continuo sendo um óptimo dentista, um bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do clube, tudo como era antes.
- Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
- É… – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha razão…
O que é que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. Continua a usar nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios.
___ Através do texto complementar O Nariz discuta como se definem as questões do normal e patológico
Música: Balada do louco
(Ney Matogrosso)
Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mais louco é quem me diz
E não é feliz
Eu sou feliz
As crianças são doentes da saúde mental infantil
ResponderEliminarExcelente pesquisa. Bom trabalho. Continue.
ResponderEliminarExcelente pesquisa. Bom trabalho. Continue.
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